quinta-feira, 6 de maio de 2010

A história de Allah-Bilama - Introdução

Estavamos todos nós amigos de sempre e adolescentes na época, reunidos felizes da vida, quando um "tiozão" hippie, chegou e nos contou uma história bem loca que descrevo abaixo para vocês. E é lógico que coloquei um pouco de romantismo no texto para dar um pouco mais de emoção, acredito que meus amigos gostarão de ver este texto ai de baixo! Boa Leitura e Abraço a todos...

Dario Venturi Filho

A história de Allah-Bilama


 A história de Allah-Bilama


  Não havia nada, nem céu, nem universo, nem vida e nem morte, muito menos bem e mal, ausência do tudo como um todo de nada é o que tinha, um vácuo sem fim. E era ali que vivia o Mestre do seu nada, no vácuo, no nada, sempre flutuando e vagando pelo rol da ausência eterna.
Barba e cabelos se estendiam por proporções infinitas, o tempo não existia também, e todos os parâmetros obsoletos de tempo e espaço jogados num mar de simples pensamentos dentro de sua cabeça sonolenta e genial, seu corpo magro, quase esquelético carregava as roupas com as quais nascera, o velho manto de luz violeta, que apenas ornava e não o protegia de frio, calor ou coisa que o valha pois nada disso havia ali. Vagava pelo nada infinito tempos após tempos, milhares de anos terrestres, eram o que seriam apenas minutos de um dia de vida do Mestre e assim era sua existência, a existência da única coisa que havia, o Mestre do nada.
  Nasceu da explosão, não se sabe de que, viu a luz, a Grande Chama Violeta o trouxe ao nada, foi e não voltou, apenas o deixou lá, já nasceu velho de aparência anciã, e estes eram os fatos que o fazia vagar e pensar sobre o que era aquela chama, o que foi a explosão, o que era ele próprio e para que sua existência dentro de um marco zero infinito. Conflitos existenciais não faltavam para o Mestre, o pensamento do nada e da não existência sempre lhe afligiu, sempre esperara o surpreendente encontro de algo, alguma substancia, matéria de qualquer espécie cuja qual ele desconheceria certamente a utilidade, proveniência e toda e qualquer informação, nunca vira nada a não ser ele próprio e sempre vagava no vácuo a procura de algo, para fim de companhia ou distração dentro do nada infinito, alguma coisa que parasse com a obrigação de ser a única coisa que lhe restava ser, um filósofo, pensador, o Mestre do Nada. Pensamentos lhe invadiam a alma, perguntas lhe surgiam sem respostas, assim aprendeu a responder por ele mesmo, como lhe parecesse certo, certo de que não havia também a medida do certo, não se sabia, com ele havia a esperança da certeza e um turbilhão de pensamentos.
 
***


  O sentimento de revolta era comum, nada havia por fazer, apenas pensar sobre as pequenas coisas que tinha na memória, digerir e remoer seus pensamentos vagos sobre o nada, nascimento e vida era o que tinha em mãos para aqueles momentos. A esperança era arma forte para situações daquele tipo e o Mestre se guiava pelo vácuo com a luz da esperança, sim a esperança de haver algo, pelo menos um futuro que lhe mostrasse e ensinasse sobre as coisas que podem haver, bradava dentro do vácuo sua indignação e ira: _ “Não há nada aqui, apenas eu e minha roupa de luz, o que sou então?” A luz emanava de seu corpo quando irado, iluminando o nada e assim percebeu que sua luz podia expandir-se de maneira intensa como a um sol e isso o fez parar, parou e pensou por muito, muito tempo.
  Pensou tanto, o que seria essa luz? Viu que era bom, podia ver o nada iluminado e assim saiu vagando novamente em sua busca ao meio do nada eterno, se agarrou a uma direção e foi, a esperança sempre ao lado lhe guiando pela mão e sempre na mesma direção e pensando: “O nada dever ter um fim, eu existo e sou o seu Mestre, assim sendo chegarei ao fim.”
  Em sua busca sem fim, pelo nada eterno, vagava, procurando na mesma direção algo que lhe dissesse a finalidade, do sentido, o porque e causa de existência de um único ser brilhante e poderoso. Já cansado parou. Pensou. Descansou o corpo e fechou os olhos, entrou em um sono profundo por um momento de quase eternidade e ali ficou, estático, flutuante em seu repouso de Deus do Esmo.
  Abriu os olhos vagarosamente, olhou para a direção a seguir e prosseguiu para seu desconhecido e angustiante destino, foi quando de muito mas muito longe, viu uma pequena luz a frente e seu sorriso fez-se frenético, alucinadamente e eufórico, aumentou a velocidade das passadas esvoaçantes, seu coração batia forte e a alegria o tomara de maneira tão intensa que foi assim que soube de sua existência, as mãos ajudavam as pernas a abrir caminho dentre ao vazio, sentiu um líquido lhe percorrendo a face que emanava dos olhos, e os sentimentos lhe invadiam o corpo lhe dando um choque e novas sensações que antes era de total desconhecimento, ia ele em direção à luz, desesperado pela sede de conhecimento para que assim matasse todas as curiosidades, e talvez a solidão que sempre lhe foi forçada parceira e desta sempre teve conhecimento. As perguntas povoavam sua mente, várias delas cada qual com a sua devida pertinência, e a esperança lhe dava a certeza de que agora haveriam muitas respostas.
  Ao se aproximar da luz, viu diminuir sua intensidade e assim a coisa tomara forma, e pode concluir que se tratava de uma planície, um solo, um espaço, um espaço pequeno para ele, porém de proporção gigantescas para o homem comum. Era um espaço plano e aberto que ele pode comprovar a distancia e assim resolveu checar de perto. Com todo o seu tamanho de um Deus, pousou sobre o local fazendo todo o espaço em sua volta tremer por momentos indeterminados, o impacto faz grandes rachaduras no solo da planície, sentiu a sensação dos pés pisando em solo firme, coisa tal que nunca sentira antes, com dificuldade aprendeu a caminhar pelo espaço, com tropeços e tremores, tudo era novo, e sendo assim observou, notou que nada havia ali ao redor e assim fora à exploração do lugar que agora existia em seu vácuo. Caminhou muito, observando cada detalhe do local, que se tratava de uma planície sólida, limpa, sem nada para ver ou observar, pelo menos ali por onde ele passara até então. Continuou seu caminho na planície, foi quando deparou com um objeto, estático e estranho como já era de se esperar que lhe parecesse, chegou ao objeto e olhou e observou por momentos, era uma espécie de molusco, nunca visto antes nem mesmo para nós, muito menos para ele, o bicho já morto, então ele não o conhecera e o que restava ali era apenas a carapaça algo parecido com um caracol. E ali ficou observando e raciocinando sobre o objeto, sua utilidade, forma, consistência, textura e tudo o que se podia descobrir observando aquilo que encontrara. A felicidade tomara conta de seus pensamentos: “Deve haver mais coisas do que eu e este objeto, há mais por esperar, obrigado esperança!”  
  Caminhou feliz, a vida poderia estar fazendo sentido depois de todo o nada de sempre agora fatos novos ou simplesmente “fatos” para uma vida dentro de um vácuo, partiu continuando sua exploração naquela planície que nunca havia visto antes ou nunca havia passado por ali, não sabia afirmar pois na imensidão do nada, não há parâmetros para saber. Mais à frente, de um lado qualquer daquela planície, havia uma construção rudimentar, uma velha cabana e o Mestre sem nada entender ali chegou e se encantou novamente pela surpresa da matéria sólida existente, fundada e construída a sua frente, deslumbrado pela construção observou cada espaço, cada coluna e para ele a simples cabana era uma obra divina e complexa, desconhecia a utilidade, era tudo a partir de agora uma grande e bela novidade, todos os seus pensamentos foram tomando formas diferentes daqueles momentos para frente. Ele entrou na cabana, observou os cômodos, era tudo feito com muita simplicidade, muito rústica, rudimentar mesmo, feita inteiramente de madeira cujo material era totalmente desconhecido do Mestre como era de se esperar, observava tudo como uma criança, tocava cada parede, cada viga de madeira, sentia cheiros, odores vindos do vegetal que nunca lhe percorrerão as narinas, nunca havia usado os seus sentidos pois nunca necessitara, degustar, cheirar ou tocar em algo, tudo era real e novo para ele. A cabana não possuía móveis nem utensílios de qualquer espécie e ali ele sentira o sentido, o começo da finalidade, um real aconchego de um mundo, de um espaço, de coisas, de vida.
  Saiu da sua nova morada, olhou para fora, viu o horizonte, que nunca imaginara antes existir, bem ali na sua frente, brincando de paisagem, lindo demais, era o fim da planície e o começo do nada,  assim ele saiu para caminhar novamente pelos arredores de sua nova morada, e foi ali que viu que o solo da planície mudava, não era mais lisa como metal ou mesmo um plástico, era cheio de grãos, torrões, que desfaziam na medida em que ele os pisava em sua caminhada, sentiu mais novas sensações de bem estar, conhecia a terra, o verdadeiro chão de um mundo, a mãe da vida estava ali para lhe apoiar em sua nova etapa e começo de vida, sentia o cheiro da terra inundar suas narinas e assim a sensação era de um verdadeiro nascimento e o começo de novas perguntas, questionamentos diversos, sua mente filosófica não parava com a ebulição de idéias e foi assim que avistou um ser, era estático, verde, vivo, brilhante no meio da parte coberta com terra da planície, ainda estava meio longe de seus olhos porém mesmo assim conseguia definir figura, decidiu voltar e descansar: “Volto depois e me apresento ao ser verde.”    
 
***



  O Mestre desperta do sono profundo e sai para sua empreitada a fim de conhecer o “ser verde” que vira antes de seu descanso. Sai da cabana vai ao encontro do “ser” no meio do terreno coberto por terra e lá chegando observa deslumbrado uma verdadeira obra de arte. Tratava-se de um ser verde, não emitia som, não se mexia, ficava parado com várias partes que finas e largas que saiam de outra mais grossa que sustentava todo resto, era uma planta, um belo exemplar de uma planta, viscosa e de proporções de um arbusto. O Mestre notou que ao redor dela estava repleto de pequenas “bolinhas” que caíram dela mesma e que algumas “bolinhas” destas estavam se transformando em pequenos seres verdes como a que ele estava observando. Acariciando as folhas, num gesto brusco de um gigante, arrancou uma das suas folhas e assim assustado, pensando ter machucado a planta ficou observando e analisando a folha, e esperando talvez uma reação por parte da planta, que permaneceu estática, sentiu o cheiro bom que exalava da folha, passou pela boca e mordeu um pedaço dela, e pela primeira vez em sua existência sentia um gosto e assim mastigou a folha e se sentiu bem, gostou do que sentiu, a felicidade era enorme, novas sensações, novos seres, um lar, um chão para se pisar, tudo era realmente esplêndido e novo, o sorriso estampava-se sem querem em seu rosto, agora a vida além de existir, possuía gostos, cheiros, texturas e novos sentimentos.
  Acabou por mastigar mais das folhas daquela única planta e mastigando observava as “bolinhas” que na verdade eram as sementes, percebendo que a planta crescia dali, ele espalhou suas sementes pelo espaço enorme de terra que havia ali e assim, depois de todos os momentos novos de trabalho, foi novamente descansar o corpo que sentia pela primeira vez o peso do esforço, do passo, do arremesso de sementes no campo e o suor que inaugurava em sua pele. Deitou-se na terra e assim cerrou os olhos e quando acordou o terreno estava repleto de arbustos viçosos, já não podia se ver o chão de terra e o horizonte era verde, verde e lindo mais do que nunca.
  Colheu muitas folhas e as comia, comia sua primeira refeição herbívora, verdadeiramente vegetariana e simples, comeu muito pois nunca havia comido, a fome era um sentimento que carregava, porém o desconhecimento não a deixava se percebe e quando se saciou desmontou em sono profundo novamente, dormiu gerações e quando acordou, as folhas secaram, estavam mortas, secas e mortas. Na planície surgiram nuvens enormes, e uma tempestade assombrou o Mestre e a chuva abateu sobre tudo, encharcando cada pedacinho de terra e toda a planície, os trovões surgiram com força e o Mestre correu para a cabana, observando tudo da janela, pensava ser algo querendo lhe dizer alguma coisa. Os pensamentos voltaram como turbilhão em sua mente e as dúvidas emanavam novamente, “O que seriam estes brados?” E foi então que os raios despencavam do céu dentre as nuvens negras que sobrevoavam apenas a planície, os raios tocavam o solo e as folhas secas das plantas e assim um grande explosão se fez e uma enorme fogueira começou por ali, as chamas tomaram conta de grande parte de tudo que o Mestre havia plantado e o fogo queimava tudo com grande violência, o som do fogo criptando no campo invadia seus ouvidos e novamente o som da natureza falava em seus ouvidos.
  A chuva passou rapidamente, restando apenas alguns poucos trovões que ainda assustavam o Mestre, foi então que ele saiu da cabana e dirigiu-se para perto da fogueira, chegando perto o suficiente para ver de perto e pela primeira vez o “fogo”. Seus olhos não se mexiam, não piscava, apenas olhava atentamente ao fogo dançando em labaredas entre os galhos das plantas queimadas, chegou mais perto e pode sentir um bom aroma proveniente da queima das folhas, e chegou mais perto ainda, inalando a fumaça da planta queimada e isso lhe dava uma sensação de bem estar tremenda, chegando fechar os olhos e ver coisas que nunca vira antes e não sabia o que eram. Gostou tanto que correu para a cabana e buscou o velho caramujo gigante que havia achado e guardado em sua cabana. Pegou as plantas ainda em brasa e encheu o espaço vazio do caramujo com elas, e ali tragava a fumaça das plantas queimadas sem parar e assim o silêncio e o nada voltaram precedidos de uma forte luz, e tudo sumiu e havia novamente ele apenas e o vácuo. Abriu os olhos bem abertos e uma luz o alcançou e o envolveu e da luz veio uma voz que dizia: ”Tu és Allah-Bilama, e és o dono de tudo, o Senhor do Esmo dono dos Pensamentos e Ações, tu és Allah-Bilama e de ti vira todo o resto.” E em forma de um relâmpago, a luz entrou dentro de sua mente e iluminou o saber que já havia ali, e por fim ele sabia todas as respostas... “Ele era tudo dentro de um nada, ele é Allah-Bilama.”

***



  Acordou depois de muito tempo, já não tinha o mesmo olhar de menino ignorante, era Senhor do Saber, sabia de seu poder, tinha todos os conhecimentos e ai entendeu o porque de ser o Mestre, e entendeu o porque do exílio e todas as suas questões que lhe afligiam a mente perturbada.
  Sendo assim se pois a colher todas as plantas secas que sobraram, acumulando tudo em uma grande fileira equivalente a vários mundos, seriam milhares de séculos que levou para este trabalho, indo a fileira de plantas secas até o fim da planície, divisa com o abismo do nada e lá ordenou a planta que queimasse vagarosamente, foi até a outra ponta próximo a cabana e acoplou o caramujo no começo da fileira e lá mesmo começou a tragar o gigantesco cigarro da planta seca.
 A Grande Chama Violeta estava de volta, forte e ofuscante, fechou os olhos e tudo começou, viu uma grande explosão, pedaços enormes de matéria viajando em velocidades imensuráveis, pequenas e grandes explosões e um espaço se formando, as estrelas, pequenos planetas, os cosmos todos e assim ele viu o surgimento do universo e das galáxias sem fim. E em sua viajem pelo universo ele olhou para um pequeno planeta e nele quis ver a vida e assim começou a imaginar e construir o planeta onde haveria seres, viu e ordenou que houvesse água e terra em abundância, imaginou e ordenou a existência de vários seres irracionais, seres que se desenvolveriam e viveriam sua vida conforme a sua vontade, à vontade de Allah-Billama. Imaginou, seres que seriam parecidos com ele mesmo, imaginou o planeta antes destes seres viu e quis que surgisse o homem, fez com que fossem inteligentes e livres para viver. Viu e imaginou todas as guerras e riu das burrices dos homens, viu e imaginou sua evolução, ele dominaria todo e qualquer pensamento e atitude e o homem seria apenas objetos de sua vontade, imaginou homens ruins, para testar a força da humanidade, colocou Cristo no mundo e riu de todos até hoje por acreditarem, fez Buda, Maomé e Oxalá e fez com que todos fossem aos seus cultos e matassem por eles. Viu Hitler matar metade de seu planeta e festejou a burrice humana mais uma vez quando seu cigarro estava em menos da metade. Viu e mandou Osama testar o “poder” Americano. Também ajudou muita gente que precisava, deu o conhecimento para muitos médicos descobrirem e tratarem doenças, para dar e dividir com os homens a “Esperança” sua companheira nas horas difíceis que não se fez de difícil em ser amiga dos homens. Deu-nos a solidão para testar a força humana só! Nos deu a alegria para festejarmos a vida que não é justa mais ainda é boa, nos deu momentos de felicidade para reafirmar a crença na vida dentro deste mundo cheio de tantas coisas... cada um de nós é uma viajem de Allah-Bilama, que viaja profundamente nos dando atenção para nossas vidas e assim o fim do cigarro está próximo e aguardamos vossa última tragada, o fim destes tempos, de nossas vidas e o Mestre recomeçar a plantação..