terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vida de Frango



  Eram 4 horas da manhã, abri meus olhos e com a visão embaçada me sentia triste pelo meu sono ter acabo juntamente com meu sonho, onde ciscava em um terreiro, uma sensação de liberdade hormonal, com minhas asas não podadas e meu organismo limpo, podendo simplesmente perambular pelos arredores, tirar a minhoca fujona da terra e tudo mais que eu quisesse fazer.
  Minha visão volta ao normal e novamente a minha rotina esta de volta, presa em uma cela de nó máximo 30 centímetros quadrados, sem ao menos ser uma ave do crime. Se pelo menos eu tivesse bicado o meu dono!? Se pelo menos eu me recusasse a botar!? Não, eu estava ali sem poder me mexer, o meu corpo dói em sua totalidade, o meu cérebro não entende mais nada, os hormônios estão corrompendo todo meu organismo e já não sou o que sou.
  Logo chega o capataz e virá a confirmar as minhas estatísticas de máquina que agora sou, a comida entra pelo bico e o ovo deve  sair pela culatra. Quando alguns dos meus ovos são “cuidadosamente” selecionados para serem frangos, a tristeza me consome de vez, os que nascem com uma simples pena distorcida, vão com vida ao lixo, incinerador ou coisa que o valha. Deus que gente é essa que me deixa aqui por toda a minha vida, nestes 30 centímetros quadrados, onde não posso nem ao menos virar meu pescoço de lado.

Algumas companheiras estão perdendo a cabeça, elas estão comendo umas as outras, dizem que é devido ao strees, elas não sabem o que dizem, estressados são os humanos que tem tanto trabalho com a gente. O canibalismo era coisa que nunca pensei em ver entre a nossa espécie tão pacífica e com vida social tão bacana não é? E fico aqui com minha filosofia de galinha máquina chocadeira, pensando na palavra “humano”, “humanismo”, em como isso me surpreende quando o ser humano diz que quando em tal situação é necessário se ter mais “humanismo”, meu Deus o que eles fazem com eles mesmos quando usam esse tal de “humanismo”? Deixam as pessoas à vida toda em trinta centímetros quadrados? 

  Fiquei sabendo de um pessoal que tem uma vida pior que a minha e que os humanos comem sua carne e cobram bem mais caro que a minha por ai... é eu ouvi o capataz daqui comentar com amigos outro dia. Ele fica no escuro, numa cela fria de chão batido, é obrigado a comer o dia inteiro feito á gente e morre novinho novinho coitado. Parece que eles o chamam de “Vitela”, ou para o “ser humano” “Carne de Vitela”. Às vezes acho que esses “seres” não são daqui deste planeta e vieram apenas sugar toda a vida dele.